quarta-feira, 22 de junho de 2016

O público-alvo e o marketing dentro da igreja.


A filosofia de marketing, motriz de muitas igrejas, além de pregar que o "produto" (no caso o evangelho) precisa se adequar aos clientes (no caso os evangelizados), ensina também que escolher um público-alvo é uma excelente estratégia para o crescimento de uma igreja. É preciso pesquisar para saber a quem você quer ministrar, assim não vamos "desperdiçar recursos com pessoas que não necessitam ou não têm interesse por seu produto..."[1] Em outras palavras, saber o seu público-alvo o ajudará a trabalhar de maneira mais focada evitando gastos com outras pessoas.

Rick Warren, em seu livro Uma Igreja com propósitos, dá estratégias de marketing para você descobrir seu público alvo. Ele fala de aspectos geográficos, demográficos, culturais e espirituais.[2] Assuntos como renda, idade e ocupação precisam ser analisados segundo ele.[3] Tudo isso é feito com o propósito de agradar as pessoas. A igreja deve ser construída exatamente para aquele público-alvo. Músicas, pregação e estilo são padronizadas para o grupo escolhido, assim, eles se sentirão em casa. Perceba que o agradar as pessoas está sempre na pauta desses ministérios. Veja o que Warren diz:
Imagine o que aconteceria com uma estação de rádio que tentasse atingir o gosto musical de todas as pessoas. Uma igreja que alternasse sua programação entre clássico, heavy metal, sertanejo, rap, reggae e samba acabaria desagradando a todos [4]
Engraçado é que ele também afirma que "não devemos criticar o que Deus está abençoando"[5]. Típico desse movimento vitimista que não consegue ser confrontado com a Palavra de Deus. Para piorar há quem diga que este é um bom livro sobre eclesiologia.

O mais estranho para mim, é que isso tudo se assemelha a uma empresa qualquer. Estudar para melhor agradar é papo de empresário. A igreja não pode ser "amigável", pois o evangelho é loucura para os que se perdem (1Co 1.18). Não há como adequar o evangelho (produto) para um público. Também não há como escolher o melhor alvo, já que o mesmo precisa ser anunciado a todas as pessoas. Paulo afirmou que era "devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes" (Rm 1.14). Ele não tinha compromisso com um único grupo de pessoas. Independentemente se eram ricos ou pobres, sábios ou incultos, Paulo sentia a obrigação de anunciar o evangelho a todos. Quando leio que o evangelho é "poder de Deus" (Rm 1.16), entendo que somente ele é o poder de Deus. Técnicas, estratégias e tudo mais, não constituem o poder de Deus. Como diria MacArthur: "É difícil encontrarmos uma filosofia de ministério mais contrária à Palavra de Deus do que esta". [6]

Quero deixar claro que essas pesquisam tem como objetivo fazer uma igreja ao gosto do freguês. Isso é inaceitável. Ela é feita para agradar. Por outro lado, existem outros tipos de pesquisas para melhor entender a cultura e para que a aproximação seja mais eficaz. O que é totalmente diferente de uma pesquisa de marketing para moldar o evangelho ao desejo dos ouvintes. Portanto, não dá para orientar um ministério à luz da filosofia de marketing. Escolher a quem pregar é demais.

Termino com as palavras de Tiago:
Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas [...] Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? [...] Se, todavia, fazei acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores. (Tg 2.1,5,9) 

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[1] GEORGE BARNA apud MACARTHUR, 2014, p.145
[2] WARREN, 2001, p. 161-169
[3] ibid., p.165
[4] ibid., p.159 (grifo nosso)
[5] ibid., p.158
[6] MACARTHUR, 2014, p.145


BIBLIOGRAFIA


MACARTHUR, John. Com vergonha do evangelho: quando a igreja se torna como o mundo. São José dos Campos: FIEL, 2014. 287 p.
WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. Tradução de Carlos de Oliveira. 2.ed. São Paulo: Vida, 2001. 392p.

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