John MacArthur, em seu excelente livro "Com Vergonha do Evangelho", publicado pela editora Fiel, faz um alerta contra uma filosofia que ganhou muito espaço no meio evangélico, o pragmatismo. Embora o livro tenha sido escrito a mais de 20 anos atrás, o tema é atualíssimo. O pragmatismo é uma filosofia que foca na utilidade de algo. O valor de uma coisa ou ação, é determinado pelas suas consequências, ou seja, se a ação funciona, obviamente ela é boa. Aplicando isso à igreja, se uma estratégia ou projeto der certo, independente se ele é correto ou não, ele é bom, pois atingiu o objetivo final. O pragmatismo é uma filosofia perigosa, mas não quero me deter à ela, quero me deter a uma outra filosofia que já se estabilizou no seio da igreja, e anda de mãos dadas com o pragmatismo. A chamamos de: filosofia de marketing.
A filosofia de marketing, não só ganhou muito espaço no evangelicalismo, como é o carro chefe para qualquer ministério. O lema é: o "cliente" é o mais importante e o verdadeiro patrão, ele é quem dita as regras. O importante é agradar e alegrar o ouvinte e/ou visitante. Qualquer tema que possa de alguma maneira assustá-lo, deve ser descartado, como por exemplo, o inferno. "Aqui não há fogo nem enxofre. Nada de pressionar as pessoas com a Bíblia. Apenas mensagens práticas e divertidas" (MACARTHUR, 2014, p.47). Resumindo, a preocupação central é com agradar as pessoas, entretê-las e deixá-las felizes. Um compromisso sério com a Palavra de Deus, de expô-la integralmente, tem sido cada vez mais raro nos nossos dias. O que determina um ministério, atualmente, são as pessoas e não Deus e Sua Palavra.
Isso pode parecer estranho para alguns que negam, até a morte, que não são direcionados pela filosofia de marketing. Entrementes, ela está mais presente do que se imagina.
Tomemos por exemplo o título do nosso presente artigo. Veja se não são as pessoas que regem o que os pregadores falam nos púlpitos. Temas são evitados para que as pessoas não se sintam desconfortáveis. Assuntos difíceis não são nem lembrados, já que as pessoas não gostam e não entendem. Estudos bíblicos e profundos são ignorados para que ninguém durma na hora da exposição. O medo que um pastor tem de ser taxado como "chato" e "prolixo" é mais importante que o medo de deixar de anunciar "todo o desígnio de Deus" (At 20.27). O importante é ver os sorrisos nos rostos e a alegria pós-culto.
Ao meu ver, está é razão pela qual somos tão superficiais em nossas pregações e estudos bíblicos. Temos medo de desagradar as pessoas. Medo de afastá-las. Entrementes, se foi de fato Cristo que a trouxe para a comunhão, ela ficará ali por causa de Cristo, e não por outros motivos.
Recentemente, fiz uma série de aulas sobre hermenêutica em minha classe de Escola Bíblica Dominical. Fui encorajado por um amigo a aplicar uma prova, para avaliar o aproveitamento e incentivá-los ao estudo. Retruquei afirmando que tinha medo, pois em nossa classe há pessoas muito jovens. Ele afirmou que os nossos jovens e adolescentes sofrem muito mais na escola. A lógica é a seguinte: lá fora você precisa estudar e se esforçar para aprender se não você não será ninguém na vida - já na igreja perdemos tempo entretendo as pessoas e depois queremos que elas sejam maduras na fé.
Por fim, não devemos ser norteados pelo que as pessoas querem ouvir, mas pelo que Deus quer falar. As Escrituras precisam dirigir o nosso ministério. Peguemos o conselho do Apóstolo Paulo a Timóteo: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina", 2Tm 4.2. Não deixemos nos dominar por aqueles que sentem coceira nos ouvidos (2Tm 4.3), e preguemos para a Glória de Deus. Vimos hoje apenas um estrago que a filosofia de marketing tem causado à igreja, e ela tem feito muito mais. Mas por enquanto é isso.
Obrigado!
MACARTHUR, John. Com vergonha do evangelho: quando a
igreja se torna como o mundo. São José dos Campos: FIEL, 2014. 287 p.
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