quarta-feira, 25 de maio de 2016

Por que somos tão superficiais em nossas pregações?

John MacArthur, em seu excelente livro "Com Vergonha do Evangelho", publicado pela editora Fiel, faz um alerta contra uma filosofia que ganhou muito espaço no meio evangélico, o pragmatismo. Embora o livro tenha sido escrito a mais de 20 anos atrás, o tema é atualíssimo. O pragmatismo é uma filosofia que foca na utilidade de algo. O valor de uma coisa ou ação, é determinado pelas suas consequências, ou seja, se a ação funciona, obviamente ela é boa. Aplicando isso à igreja, se uma estratégia ou projeto der certo, independente se ele é correto ou não, ele é bom, pois atingiu o objetivo final. O pragmatismo é uma filosofia perigosa, mas não quero me deter à ela, quero me deter a uma outra filosofia que já se estabilizou no seio da igreja, e anda de mãos dadas com o pragmatismo. A chamamos de:  filosofia de marketing. 

A filosofia de marketing, não só ganhou muito espaço no evangelicalismo, como é o carro chefe para qualquer ministério. O lema é: o "cliente" é o mais importante e o verdadeiro patrão, ele é quem dita as regras. O importante é agradar e alegrar o ouvinte e/ou visitante. Qualquer tema que possa de alguma maneira assustá-lo, deve ser descartado, como por exemplo, o inferno. "Aqui não há fogo nem enxofre. Nada de pressionar as pessoas com a Bíblia. Apenas mensagens práticas e divertidas" (MACARTHUR, 2014, p.47). Resumindo, a preocupação central é com agradar as pessoas, entretê-las e deixá-las felizes. Um compromisso sério com a Palavra de Deus, de expô-la integralmente, tem sido cada vez mais raro nos nossos dias. O que determina um ministério, atualmente, são as pessoas e não Deus e Sua Palavra.

Isso pode parecer estranho para alguns que negam, até a morte, que não são direcionados pela filosofia de marketing. Entrementes, ela está mais presente do que se imagina.
Tomemos por exemplo o título do nosso presente artigo. Veja se não são as pessoas que regem o que os pregadores falam nos púlpitos. Temas são evitados para que as pessoas não se sintam desconfortáveis. Assuntos difíceis não são nem lembrados, já que as pessoas não gostam e não entendem. Estudos bíblicos e profundos são ignorados para que ninguém durma na hora da exposição. O medo que um pastor tem de ser taxado como "chato" e "prolixo" é mais importante que o medo de deixar de anunciar "todo o desígnio de Deus" (At 20.27). O importante é ver os sorrisos nos rostos e a alegria pós-culto.

Ao meu ver, está é razão pela qual somos tão superficiais em nossas pregações e estudos bíblicos. Temos medo de desagradar as pessoas. Medo de afastá-las. Entrementes, se foi de fato Cristo que a trouxe para a comunhão, ela ficará ali por causa de Cristo, e não por outros motivos.
Recentemente, fiz uma série de aulas sobre hermenêutica em minha classe de Escola Bíblica Dominical. Fui encorajado por um amigo a aplicar uma prova, para avaliar o aproveitamento e incentivá-los ao estudo. Retruquei afirmando que tinha medo, pois em nossa classe há pessoas muito jovens. Ele afirmou que os nossos jovens e adolescentes sofrem muito mais na escola. A lógica é a seguinte: lá fora você precisa estudar e se esforçar para aprender se não você não será ninguém na vida - já na igreja perdemos tempo entretendo as pessoas e depois queremos que elas sejam maduras na fé.

Por fim, não devemos ser norteados pelo que as pessoas querem ouvir, mas pelo que Deus quer falar. As Escrituras precisam dirigir o nosso ministério. Peguemos o conselho do Apóstolo Paulo a Timóteo: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina", 2Tm 4.2. Não deixemos nos dominar por aqueles que sentem coceira nos ouvidos (2Tm 4.3), e preguemos para a Glória de Deus. Vimos hoje apenas um estrago que a filosofia de marketing tem causado à igreja, e ela tem feito muito mais. Mas por enquanto é isso.

Obrigado!



MACARTHUR, John. Com vergonha do evangelho: quando a igreja se torna como o mundo. São José dos Campos: FIEL, 2014. 287 p.